terça-feira, 7 de julho de 2009

Sobre povos e humores


Uma das coisas mais interessantes de se observar quando estamos viajando são as características de cada povo, ou, em outras palavras, o seu jeito, seu humor. E sem essa de estereótipos. Brasileiro, pra mim, não é necessariamente folgado (apesar de haver conhecido uns tipos bem folgadinhos), muito menos malandro. Também não é sinônimo de gente que quer sempre se dar bem.

Antes de morar na Espanha, tinha os espanhóis como um povo festeiro, alegre, com o humor bem parecido com o dos brasileiros. Uma vez lá, a surpresa (e ligeira decepção). Sim, os espanhóis são festeiros, adoram bares e cerveja, mas, curiosa e paradoxalmente, são mal humorados. E, sem exagero, são mal educados também (desculpem-me os espanhóis legais que conheci).

Não se espante se, ao chegar em uma loja, você der um "buenos días" e ninguém responder. Não se irrite se você disser "gracias" e não te devolverem um "de nada". Não dê a mínima se você esbarrar com um espanhol na rua e ele te comer com a cara. Obrigado, por favor e bom dia são palavras que parecem não existir no vocabulário de um legítimo espanhol, ou melhor, de um autêntico madrilenho (dizem que os espanhóis levam a fama por causa dos madrilenhos; os andaluzes, por exemplo, são bem mais simpáticos).

Passei por umas situações irritantes, quando de fato tive vontade de usar todos os palavrões que havia aprendido. Numa banca de revista, disse, muito educada: "bom dia, você tem a revista tal?". Antes mesmo de eu terminar de articular a última letra, a mulher respondeu com um abusado "pegue", sem sequer levantar o rosto e olhar para mim. Dei o dinheiro, não agradeci e saí bufando. Também não conto as vezes em que esbarrei sem querer em um espanhol, pedi desculpas e fiquei no vácuo, além de ter sido fuzilada com um olhar reprovador. Outra situação chata aconteceu em Segóvia, uma cidadezinha perto de Madri. Entrei em uma padaria e pedi uma baguete. A mulher me entregou-a enrolada pela metade em um papel. Pedi um saco, ela disse que não tinha. Argumentei que ia viajar e que não podia levar o pão no trem daquela maneira. Ela fez uma cara, partiu a baguete ao meio, enfiou-a numa sacola e disse: tome.
Trocando em miúdos, os espanhóis são um povo de poucas palavras, falam o que pensam na lata, não fazem arrodeios e não se preocupam em ser polidos.

Ao contrário dos espanhóis, percebi que os irlandeses são bem mais simpáticos, sorridentes e educados. Estão sempre dispostos a ajudar, não fazem cara feia se você os para na rua para pedir uma informação e adoram, e muito, bares, bebedeiras e um dedo de prosa. São um povo alegre, o que é curioso, pois o clima lá é quase sempre chuvoso, o céu vive nublado e o frio, então... Nos dois meses em que vivi em Dublin, não tenho nada a reclamar do humor dos irlandeses (ao contrários dos espanhóis, que frequentemente me faziam ter raiva).

Em relação aos franceses, tive a impressão de que são bastante educados. Na França, ao contrário da Espanha, obrigado e por favor são palavras obrigatórias. O mesmo vale para os ingleses. Lá, nada mais verdadeiro do que o velho estereótipo de que os britânicos são extremamente educados. É uma coisa que chega a irritar, pois, de cada dez palavras faladas por um inglês, sete são thank you, please ou sorry. Se você pisar no pé de um inglês, não se assuste se ele pedir desculpas por você.

Poderia fazer mais uma série de observações sobre outros povos que conheci e/ou convivi, como, por exemplo, argentinos, chilenos, mexicanos, italianos, tchecos, alemães, etc, mas vou ficando por aqui. Arrisquei a falar com propriedade apenas de espanhóis e irlandeses, pois os conheci melhor, já que morei em Madri e Dublin. Em relação às outras nacionalidades, com as quais apenas tive um breve contato, tudo que disse são apenas palpites, mesmo correndo o risco de cair em estereótipos. E enxergar além do óbvio é a principal coisa que devemos fazer quando estamos viajando.

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