A tourada surgiu como um esporte popular, com raízes em cultos religiosos ancestrais, onde o animal era celebrado como deus da fertilidade pelos povos do Mediterrâneo, na Antiguidade. Antes de casamentos, o ritual exigia que o noivo matasse um touro para invocar uma união próspera, explica o antropógolo holandês Marco Legemaate, em entrevista à revista Super Interessante. Posteriormente, na Idade Média, a matança de touros já havia se consagrado como exercício de coragem e destreza na Penísula Ibérica.
O relato mais antigo de algo semelhante às atuais touradas aparece em 1135, como parte dos festejos da coroação do rei de Castela e Leão, Afonso VII. Naquela época, o toureiro era um nobre que enfrentava o touro montado a cavalo e armado de uma lança. Ao povo, só lhe restava a tarefa de ajudar a liquidar o animal. No entanto, com a chegada à Espanha da dinastia francesa dos Bourbon, no início do século 18, a dinastia local abandonou esses prazeres "rústicos" para se entregar ao luxo da corte, abrindo espaço para boiadeiros e camponeses criarem as touradas modernas.
Atualmente, o espetáculo, de tão popular, lembra uma partida do campeonato brasileiro (exageros à parte). Casa lotada, público vibrante, gritos de guerra, aplausos e mais aplausos - e não importa se foi o toureiro quem atingiu o touro ou o contrário, o público vibra de qualquer jeito. De fato, existem hoje 325 arenas na Espanha, palcos de 17 mil touradas por ano, movimentando mais de 1 bilhão de dólares e empregando 200 mil pessoas, quase 1% da força de trabalho do país (fonte: Super Interessante, edição 183).
Apesar das cifras, a prática gera polêmica. Para uns, é a mais legítima expressão da cultura espanhola. Para outros, o ritual não passa de uma tortura sádica - contra os bichos, claro. Eu fico com a última opção. Tive a oportunidade assistir a uma tourada na Plaza de Toros de Madri - por mera curiosidade, diga-se -, e o que vi me embrulhou o estômago. A cada espetáculo são sacrificados seis touros, que posteriormente são vendidos a açougues. Não importa o que se faça com eles depois, o fato é que os bichos sofrem por aproximadamente 45 minutos, perdendo uma grande quantidade de sangue, antes de serem finalmente mortos.
Tudo começa com a entrada do toureiro na arena, "armado" apenas de uma capa vermelha, usada para atrair o animal. Enquanto o toureiro cansa o touro, que corre de um lado para outro atrás da capa (o público vibra com `olés´), entra em cena os picadores, que nada mais são do que homens montados a cavalo que espetam o touro com lanças, visando diminuir a força dos músculos do pescoço e das patas dianteiras do animal. Nesse ritual, o bicho chega a perder quase dois litros de sangue.
Como se não bastasse, entra em cena então os banderilleros, que cravam varas com pontas de arpão na parte de trás do pescoço do touro, região cheia de terminações nervosas. No geral, seis banderillas são cravadas no animal, com o objetivo de enfurecê-lo para a luta final. Com o animal já bastante debilitado, volta à cena o toureiro, que dá a estocada final numa região chamada "olho das agulhas", localizada entre os ossos na junção do pescoço. Uma lança de 90 cm de comprimento atravessa o animal, atingindo a aorta. A morte é imediata. Como prêmio para um desempenho excepcional, o toureiro recebe a cauda e as orelhas do touro.
E esse ritual se repete seis vezes em uma única noite. Após a morte do quarto touro, retirei-me do local. O que mais me intrigava era a euforia com que o público vibrava a cada lança cravada no lombo do animal. Seria a manifestação de nossos instintos mais primitivos? Deixo essa parte para algum sociólogo (ou psicólogo, sei lá) analisar, sou apenas uma jornalista, curiosa por natureza. O fato é que deixei a Plaza de Toros com minha curiosidade saciada, porém com uma grande interrogação em minha cabeça: qual o sentido disso tudo?
Tudo começa com a entrada do toureiro na arena, "armado" apenas de uma capa vermelha, usada para atrair o animal. Enquanto o toureiro cansa o touro, que corre de um lado para outro atrás da capa (o público vibra com `olés´), entra em cena os picadores, que nada mais são do que homens montados a cavalo que espetam o touro com lanças, visando diminuir a força dos músculos do pescoço e das patas dianteiras do animal. Nesse ritual, o bicho chega a perder quase dois litros de sangue.
Como se não bastasse, entra em cena então os banderilleros, que cravam varas com pontas de arpão na parte de trás do pescoço do touro, região cheia de terminações nervosas. No geral, seis banderillas são cravadas no animal, com o objetivo de enfurecê-lo para a luta final. Com o animal já bastante debilitado, volta à cena o toureiro, que dá a estocada final numa região chamada "olho das agulhas", localizada entre os ossos na junção do pescoço. Uma lança de 90 cm de comprimento atravessa o animal, atingindo a aorta. A morte é imediata. Como prêmio para um desempenho excepcional, o toureiro recebe a cauda e as orelhas do touro.
E esse ritual se repete seis vezes em uma única noite. Após a morte do quarto touro, retirei-me do local. O que mais me intrigava era a euforia com que o público vibrava a cada lança cravada no lombo do animal. Seria a manifestação de nossos instintos mais primitivos? Deixo essa parte para algum sociólogo (ou psicólogo, sei lá) analisar, sou apenas uma jornalista, curiosa por natureza. O fato é que deixei a Plaza de Toros com minha curiosidade saciada, porém com uma grande interrogação em minha cabeça: qual o sentido disso tudo?
Biba, ainda não li todos os posts, mas gostei muito do vi. Gostaria que você resgatasse os micos menos glamurosos de outras viagens...
ResponderExcluirSaudades! Mayra